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domingo, 29 de novembro de 2020

Entrevista : Vivar


 Essa semana tive a oportunidade de trocar ideia com a Vivar, banda de Florianópolis que acaba de lançar um disco, que está muito bom por sinal, muito bom poder trocar ideia e conhecer bandas como essa, que se mantem na ativa, inclusive lançando material novo em meio a essa pandemia. Ja deixo logo abaixo o link para que conheçam a Vivar. 

Vivar Links


Como surgiu a Vivar?


Vivar surgiu da vontade minha (Julio) e do Joel de continuar tocando depois que nossa banda anterior parou. Nós tínhamos algumas músicas prontas que já tocávamos ao vivo, e outras ainda em composição. Fomos pro estúdio com duas músicas praticamente prontas e mais duas surgiram nos ensaios. No início de 2017 convidamos o amigo Fabiano Garcia pra gravar o baixo e registramos nossos primeiros sons, que é o nosso EP, lançado em setembro do mesmo ano. Depois disso convidamos o Gau pra assumir o baixo e o Kauê a guitarra, e temos tocado nessa formação desde então, até que o micróbio do caraio chegou.

Essa pandemia tá fodendo geral . Cara fala um pouco sobre as influências da banda .

Falar sobre referências é sempre muito subjetivo né… Ainda mais envolvendo quatro cabeças pra uma ideia. Uma unanimidade entre nós é o hardcore que se popularizou nos 2000, e o pop punk norte americano e nacional - Rancid, Face to Face, Nofx, Pennywise, Dead Fish, Noção de Nada, Mukeka di Rato, Garage Fuzz… Individualmente falando, as influências vão desde os primórdios do hardcore - Bad Brains, Black Flag, Minor Threat, Dag Nasty -, os emo-indie dos 90 - Samian, Farside, Sunny Day Real Estate -, até rap nacional, uma pitadinha marota de brega, além das referências não necessariamente musicais e tal.



Samiam é demais , conta aí um pouco sobre os roles que a banda participou até a pandemia e os projetos que tiveram que ser engavetados para o pós pandemia ?

Nós tocamos sempre em eventos pequenos, organizados por nós e/ou amigs e bandas amigas. A maioria destes eventos em Florianópolis mesmo. Já tocamos em outras cidades do estado também.
A gente vinha num ritmo legal até. Considerando a disponibilidade de cada integrante da banda e a realidade de eventos na cidade - aquele velho drama do underground -, acho que tava rolando tocar legal. No último evento antes da quarentena tocamos num festival maior, com várias bandas, entre elas O Inimigo e Surra. Foi bem legal. Mas aí veio o covid e travou tudo né… Isso deu uma atrasada na finalização do nosso disco que já tava gravado. Mas conseguimos fechar tudo e as músicas foram lançadas agora em novembro nas plataformas da internet.
O que está engavetado mesmo por enquanto são os ensaios, a conclusão de músicas novas e a vontade de tocar e aglomerar com nossos amigos e amigas.

Espero que isso logo se resolva . Fico muito feliz de conhecer bandas legais pelos 4 cantos do Brasil. A cena sobrevive , apesar de todos contras possíveis . Mas fala aí pra nós , como funcionou o processo de composição das músicas desse último álbum . Gravações etc...


Not the same é o nosso primeiro disco cheio, como dizem né. Tem nove sons compostos por mim (Julio) e pelo Joel, e finalizados por nós quatro em estúdio. Só uma dessas músicas é uma versão da bandassa Los Crudos. 
O movimento de composição foi mais ou menos esse: lançava um áudio da ideia no grupo, todo mundo opinava e depois íamos lapidando nos ensaios. É um processo que leva tempo, é preciso ter paciência, as vezes o que um pensou pro som se transforma depois, mas por aí foi.
As músicas foram gravadas no início de 2019, e durante esse ano a gente voltou algumas vezes pro estúdio pra arrumar alguns detalhes e tal.A parte técnica de gravação quem cuidou foi o Joel. Ele trabalha no estúdio Urbano aqui em Floripa e fez toda a parte de captação dos instrumentos e voz, mixagem e masterização. Foi um trabalho beeem cansativo e demorado. Os instrumentos foram captados separadamente nos horários que o estúdio e cada um de nós tinha disponível. Então se tinha horário vago, alguém tava trampando; se alguém tava livre não tinha horário no estúdio… doidera! Mas é preciso valorizar também o trabalho solitário do Joel de ficar ouvindo mil vezes o mesmo som, cortando e ajeitando detalhes e tal, até durante a quarentena.



Entendi, cara fico feliz sempre de conhecer bandas legais que me agradam , como é o caso do Vivar, o decurso drama que é de Floripa também . Conta aí, como que foi sua imersão nesse mundo underground ?

Decurso é massa! São nossos amigos aqui.
Eu comecei a me interessar nessas doidera de banda no início dos 2000, quando escutava rock nas rádios e nem tinha acesso a internet e tal. Um primo nessa época ganhou uma bateria e montou uma banda, e de vez em quando eu ia assistir os ensaios e brincava na bateria nos intervalos, até que virei o baterista da banda (risos). Ao mesmo tempo apareceu o skate, que me apresentou outros lados da cidade, o rap, o punk e o hardcore, os questionamentos, as ideias, os amigos querendo montar banda, os shows… Mas só fui me aprofundar e amadurecer toda essa relação quando mudei pra Floripa em 2008 pra estudar. Aqui pude entender melhor o lado político da coisa e a relação com outros movimentos, principalmente os artísticos. Pude conhecer pessoas envolvidas em diversas frentes que não só no punk e na música, mas também nas artes gráficas, no teatro, no cinema, nos movimentos sociais, até na gastronomia…… Enfim, que também tão correndo por fora e buscando se movimentar de alguma forma.


Muito legal . O Skate sempre é a porta de entrada pra obscuridade .hehe .. cara e quanto as letras , tem algum processo , alguma preocupação na hora de escrever? Se fosse simplificar tudo, qual seria a mensagem da banda ?

Julio - Pra mim não tem um processo obrigatório de escrita. A escrita pode vir primeiro com alguma frase, algum tema, e depois a melodia. Ou pode vir a melodia e depois tenta encaixar a letra em cima. Me preocupo em não ser tão clichê, sei lá… Em não entregar uma ideia pronta, mas deixar brechas pra dúvidas, e se gerar alguma reflexão, ótimo. Nas letras falo de mim mesmo, de experiências de outras pessoas, de questões sociais, etc.
Acho que não temos uma mensagem que resuma as ideias da banda. Nós escolhemos nos expor, temos nossos posicionamentos e visão de mundo, e quem quiser trocar ideia tamo aí. No fundo a música é também um meio pra outros fins né...
Joel - Não tem a preocupação sobre o que se deve falar, mas também nem sempre é um processo prazeroso, porque expressamos algo que sentimos ou nos incomoda no mundo. Na maioria das vezes é algo que expressamos com a música pois não conseguimos expressar falando e porque nos comunicamos melhor através dela.



Muito louco isso na música , e muitas vezes, até quando se há uma intenção direta na música , ela acaba ainda afetando a pessoa que está ouvindo de uma forma inesperada. Caras deixem umas dicas culturais , livros, filmes , discos, podcast... Enfim o que quiserem compartilhar com as pessoas que estão lendo essa entrevista.

Bom, pra não ficar tão genérico escolhemos citar bandas, artistas ou quem está envolvido com produção cultural em Florianópolis,com quem temos alguma proximidade. Então pesquisem aí as artes do Paulo Jeca, do Rael Brian, as produções artísticas da Gabi Bresola , da Casa do Mar Aberto , do coletivo Pintelute, os escritos do Marcelo Labes , os sons da Quazimorto , Decurso Drama, All Systems Fall, Never Again , Budang , Bizibeize , Mana Moa Mc , Grize , Ghost Bitch , Kamikazes Refuse . Também nosso baixista Gau , que produz e pesquisa arte, além de uma galera que com certeza ficou de fora aqui porque esquecemos e acho que nem caberia citar tods.



Animal , caras encerro por aqui essa entrevista, fico muito feliz de ver tanta música boa sendo produzida pelos 4 cantos do Brasil , e conhecer um pouco sobre a história de vocês . Deixo esse espaço aberto para se manifestarem abertamente, um abraço.

Gostaríamos de agradecer ao Calmalabomba por se interessar no que estamos fazendo e por fazer as coisas circularem através do blog. Brigadão!
Como falamos aqui na entrevista já, estamos lançando um disco, feito totalmente por nós mesmos e com ajuda de amigs. Quem quiser conhecer tá tudo aqui ó https://www.flow.page/vivarband .
Por fim dizer que é um baita privilégio estar falando sobre fazer som e tudo que envolve num momento tão horroroso pra nossa sociedade. Que esse vírus maldito suma mais rápido do que chegou e leve junto esse governo e todos os fachos do mundo.
Esperamos nos encontrar logo pra fazer um som e trocar ideia com tods. Abraços!
#pazentrenos