Salve! Como nunca canso de dizer, uma das melhores coisas no
Underground, é a coletividade, o apoio, o suporte dentro da filosofia
"faça você mesmo". Minha companheira, a Aldry trocou uma ideia com a
Suy, vocalista das bandas Vulgar Gods, Familia Estanha e Beatrice. Deixo
meus agradecimentos a Aldry por colaborar com esse projeto.
"Na época também existia uma rivalidade boba entre as minas, a gente ainda não tinha contato com outras gurias que tocavam então quando tinha mina(não todas) sentíamos que elas tinham receio de se aproximar e até um medo de discordar da opinião dos "macho escroto" que nos rodeavam, mas quanto mais deles apareciam, mais a gente tocava e tava na "boca" do povo."
Vulgar Gods
Familia Estranha
Beatrice
Suy
no underground as garotas vem ganhando força e protagonismo, e sabemos que nem sempre foi assim. Qual a dificuldade que enfrentou ou
enfrenta ainda hoje, por ser mina no rolê? E quando teve seu primeiro
contato com underground?
Menina,
já to nessa cena a uns 14 anos, minha primeira banda foi uma banda de
gurias, a "Beatrice" , começamos em 2006 e na época não tinha banda de
mina em Londrina. No início sentíamos muita vontade de estar juntas mas
não sabíamos executar os instrumentos direito e até encontrarmos um
propósito pra fazer aquilo além da amizade e união, demorou um pouco mas
passamos bastante tempo juntas e consequentemente fomos aprendendo
juntas e nos fortalecendo.
Quando fazíamos shows a
maior parte do público eram homens e sempre rolava coisinhas singelas
como por exemplo no final do show ouvirmos comentários do tipo "a gente
veio pra ver se vocês manjavam tocar mesmo" ou os caras querendo carregar
nossos instrumentos por acharem "pesados" pra mulher carregar, abuso
físico nunca rolou, mas já rolou falta de respeito pra cacete pois mina
que tocava era "vagabunda", "fácil", ou estávamos ali pra "aparecer,
"pegar geral" , os caras não se tocavam que por trás dos shows
existiam 4 mulheres lutando por um espaço, que era nosso por direito, a
gente ocupava tanto quanto eles. Na época também existia uma rivalidade
boba entre as minas, a gente ainda não tinha contato com outras
gurias que tocavam então quando tinha mina(não todas) sentíamos que elas
tinham receio de se aproximar e até um medo de discordar da
opinião dos "macho escroto" que nos rodeavam, mas quanto mais deles
apareciam, mais a gente tocava e tava na "boca" do povo. Então a missão
foi cumprida, era pra causar mesmo e fazer outras gurias se sentirem
mais livres pra serem e fazerem o que quisessem.
Funcionou, por um tempo, no sofrimento pra nós, mas a longo prazo passar por essas coisas nos fez muito mais fortes.
Hoje
a cena feminina e feminista tá maravilhosa e crescendo rápido, é muito
bom ter carregar essa bagagem e poder compartilhá-la com todxs, ainda
tem pessoas que vão julgar sim mas nossa rede de apoio é grande. Posso
dizer que meu único receio, às vezes, é o de não ter receio. Quando
estou sozinha, por exemplo, eu sinto medo mas enfrento de cabeça erguida
qualquer tipo de preconceito e defendo o que acredito total, mas
enfrentar esse tipo de coisa, essas atitudes escrotas e machistas podem
causar coisas pesadas, o machismo tá cada vez mais sutil e considero
isso muitas vezes, pior do que na época em que era somente escancarado.
Então se cuidem grrrls. Se protejam sempre. Não andem sozinhas.
Sobre o machismo, cada
vez mas sutil, porém ainda muito presente. Às vezes até mesmo minas
tem inconscientemente, esse tipo de atitude, muitas alienadas por
vivermos em um sistema patriarcal. Além da sororidade. O que mais dentro
do seu ponto de vista, pode fazer a diferença nesse sentido?
Acredito que as pessoas precisam ter mais empatia com as outras, somos cada um uma energia e respeitando quem é diferente da gente já resolveria muitas questões.
Você está envolvida em vários
projetos, entre bandas e até mesmo um espaço Cultural na região. Conte
um pouco sobre.
Canto na Vulgar
Gods desde 2016(nasceu em 2012) que é uma banda autoral londrinense com
um som mais pesado e letras incríveis escritas pelo meu amigo Guilherme
Hoewell. E no mesmo ano, junto com um outro amigo, formamos a Família Estranha em que canto, toco violão e banjo. A família nasceu com a ideia
de tocarmos nas ruas, nossa instrumentação é acústica e isso nos
permite tocar em todos os lugares possíveis.
Começamos
com o nome de "the weird family" e com o tempo decidimos colocar em
português o mesmo nome por "N" motivos, além da gente curtir muito, tudo
em português.
Tem sons da Vulgar Gods no Spotify e em todas as plataformas de streaming e tem som da Família Estranha no Youtube e Soundcloud.
No
início de 2019 fui convidada a idealizar junto com mais 10 pessoas um
novo espaço cultural em Londrina onde seria possível fazer eventos, dar
aulas, dar oficinas, workshop, gravar, etc. então surgiu o coletivo
Espaçonave.
A Nave é uma casinha muito aconchegante
que é mantida financeiramente por nossos trampos dentro e fora dela,
acabamos de atingir a meta de uma vaquinha online pra construção de um
palco de bambu no nosso jardim ainda esse ano, mas as atividades voltam
ao normal logo que passar a pandemia que não permite que possamos sair
de casa, por isso estamos produzindo conteúdos digitais, então sigam
@coletivoespaçonave. Mas logo que isso passar faremos uma
re-inauguração do espaço e todxs estão convidadxs desde já.
Wow! Ja quero,rs.Você também compõe? Que mensagem você busca transmitir em suas letras?
Eu escrevo a muito tempo e hoje faço as letras, base e melodia pras músicas da família estranha.
As
letras falam sobre vários assuntos pertinentes e de coisas que vou
vivenciando e aprendendo ao longo do tempo. Acho que coisas feitas com
emoção conseguem passar uma verdade maior pras pessoas, onde elas podem
ou não se identificar com a mensagem.
Massa!!! Quais são suas referências musicais?
Punk rock riot certamente.
Claro
que vim de uma família tradicional e meu pai ouvia sertanejo raiz e
minha mãe pop, rock clássico e isso com certeza interfere em muita coisa
quando faço minhas músicas, mas adoro na real, era a mistura que eu
precisava.
Legal, bem no estilo dos meus velhos
também. Festivais mais legais em que participou até aqui?
A Família Estranha tem participado de vários festivais
muito legais e inspiradores(Libélula, não vai ter coca, Revirada) mas
sem dúvida o meu favorito é o resistência pirata, produzido pela galera
de Londrina.
Projetos pós quarentena, ja tem algo engatilhado?
Temos o festival Peabiru que pode rolar entre setembro e
outubro e Família Estranha e Vulgar Gods estão confirmadíssimas.
E
tem os projetos do coletivo espaçonave sendo engatilhados pra quando
passar esse surto a gente poder voltar a tona. Esperamos que isso passe
logo, por isso fiquem em casa galera, a mídia não divulga os casos de
internações nem de mortes pelo vírus direito.Fiquem ligadxs.
A gente não sabe nem metade do que tá rolando de verdade. Força a todxs.
O que tem feito durante
esse período de confinamento? Deixe algumas sugestões, livros, playlist,
filmes.
Estamos a milhão na
produção de conteúdo digital com a nave e com a Família Estranha, tenho
feito algumas lives com amigxs de outras cidades pra divulgarmos os
trampos, tenho estudado banjo, estou relendo "mulheres que correm com os
lobos" e assisti "o Barato de Iacanga" esses dias, um doc. sobre música
e o festival de águas Claras, muito foda.
Em minhas playlists sempre tem Distillers, Bikini kill, the kills, e músicas dxs migx
Caburé
Canela, Matina, Cambaia, Red Mess, Stolen Byrds, Muñoz, Horrorosas
Desprezíveis, Diego Perin, Estrela Leminski, Aminoácido, Luvbites, De um
Filho de um Cego, todxs incríveis pra vários tipos de pira.
Valew pela disponibilidade, deixo aberto à suas considerações!
Obrigada pela conversa Aldry, espero que possamos conversar mais e conte comigo. Abraço!
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