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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Entrevista : Marcelo Fernandes (Solstíscio/ Las Calles/ Bulldog Club)

"Apesar de aparentemente sutil, acho que há um senso de comunidade na cena Hardcore/Punk (na qual estou inserido!). Acho que as mensagens das bandas encontram eco por representarem também os desejos de um mundo mais justo e democrático. "


Salve! É com muita alegria que anuncio aqui o nome de mais um apoiador ativo desse projeto, que nasceu para ser coletivo mesmo. O meu amigo Eder Rafael aceitou investir um pouco de seu tempo nesse humilde projeto, ajudando a manter esse Blog atualizado e sempre com conteúdo de primeira. Valeu mano! 
Ele conversou com o Marcelo Fernandes, vocalista da lendária banda carioca Solstício, e ele falou um pouco sobre seus outros projetos. Links logo abaixo , só coisa finíssima!

Solstício Bulldog Club Las Calles

 

Salve, Marcelo! Seja bem-vindo ao Calm Like a Bomb!
É um prazer ter a oportunidade de trocar uma ideia contigo e saber um pouco mais sobre você, seus projetos e a cena Punk/Hardcore no estado do Rio de Janeiro.
Peço que se apresente para nós.
O prazer é todo meu!
Me chamo Marcelo Fernandes. Sou vocalista nas bandas Solstício, Las Calles e Bulldog Club. Estou envolvido com a cena Punk/Hardcore há mais ou menos 30 anos. Sou professor de Geografia na rede pública estadual do Rio de Janeiro.

Bacana! Cara, conheço seu trabalho na cena desde meados dos anos 2000 através do Solstício, pra ser mais preciso pelo split com o Larusso que foi lançado pela Caustic. O Solstício é do fim dos anos 90. Você teve algum outro projeto anterior?
Sim. O Solstício foi formado em 1999. Antes dessa banda tive algumas outras com vidas mais curtas como Change (Hardcore) que durou algo entre 1998-99, e Gritos da Fome (Punk) 1997-98.
Fera! Essas duas eu não conhecia. Tem registros dessas bandas? Solstício sempre foi uma banda que me chamou a atenção e eu tento acompanhar, tanto que fiquei muito feliz pelo retorno. É difícil desconsiderar a situação atual por conta da pandemia, mas estavam preparando algum material novo pro Solstício? O último EP é o Tempestade, de 2009, o qual é ótimo por sinal!
A minha primeira banda gravou uma demo beeem caseira. Mas acho que se perdeu com o tempo! Já a Change gravou um k7 com melhor qualidade, mas nunca mais a vi!
Já o Solstício está para lançar um clip da música Neocons, foi um retorno ao rapcore dos anos 90. E estamos esperando o fim da pandemia para fazer mais músicas na linha do Tempestade


Fera demais! Além do Solstício, você citou o Las Calles e o Bulldog Club. A primeira eu conheço e acompanhei o lançamento do EP “Batalha após batalha” e dos singles “Tudo ou nada” e “Linguagem do fogo”, já a segunda eu não conheço ainda. Como é conciliar esses projetos com as obrigações pessoais? Comente um pouco sobre essas bandas.
O problema maior pra conciliar tudo é, especialmente pra mim, a dificuldade em manter as cordas vocais em bom estado, já que preciso delas para dar aulas. Quanto a tempo, as bandas acabam sendo uma válvula de escape é uma forma de falar sobre temas que acho relevantes. É uma das partes prazerosas da vida!

Concordo plenamente! Você é da Região dos Lagos.  Como funciona a cena Punk/Hardcore aí? Ela acaba sendo uma cena totalmente independente da capital ou rola certa dependência ou intercâmbio?
A cena é bem pequena, mas justamente isso faz com que todo mundo que curte diferentes sons (Metal, Punk, Hardcore e etc.) acabe se reunindo nos poucos shows que acontecem. Essa diversidade é boa para criar um ambiente mais tolerante e menos sectário. O intercâmbio com bandas e pessoas de outros lugares acontece, ainda que de forma limitada.

Pode crê! Particularmente eu conheço poucas bandas do estado do Rio de Janeiro. Você consegue mensurar o alcance das bandas que participa? O Solstício pela grande trajetória já se apresentou em outros estados. Qual a sensação de sair do seu espaço de vivência e levar a sua mensagem pessoalmente para outros lugares? Ver, ouvir e sentir que pessoas que você não convive se reconhecem na sua música?
Apesar de aparentemente sutil, acho que há um senso de comunidade na cena Hardcore/Punk (na qual estou inserido!). Acho que as mensagens das bandas encontram eco por representarem também os desejos de um mundo mais justo e democrático. Penso que são estes desejos, muito mais que as bandas e suas mensagens, que mantém
essa comunidade unida. Ainda mais num momento de Protofascismo institucionalizado como o atual!


O contexto político, assim como o econômico e o social a nível nacional e estadual são desesperadores e sabendo que a temática do Punk/Hardcore sempre foi questionar/confrontar/denunciar as decisões que são tomadas e o reflexo delas. Você acredita em um fortalecimento da cena?
Acredito num fortalecimento no sentido de que as pessoas envolvidas estão sendo levadas pelas circunstâncias a se posicionarem diante do fascismo. Mas já um fortalecimento em relação ao aumento da quantidade de pessoas envolvidas, acho que não. Pelo contrário, parece haver menos pessoas a cada show que acontece. Mas no fim das contas, qualidade é melhor que quantidade.

Interessante! A nossa maneira de consumir música mudou radicalmente, principalmente na última década. Qual sua opinião sobre a cena punk/hardcore no universo do streaming?
Cara, taí uma coisa que ainda não consegui compreender totalmente! O impacto é enorme e acho que ainda estamos no início da mudança cultural que essa tecnologia exige! Aparentemente, o “Faça você mesmo!” tem seu potencial ampliado. Por outro lado, parece que essas tecnologias afastaram as pessoas umas das outras, o que é péssimo para o circuito de shows underground.

Marcelo, finalizo aqui agradecendo pela disponibilidade de tempo pra trocar uma ideia e abro esse espaço para suas considerações finais.
Grande abraço.
Agradeço a oportunidade de expor um pouco das minhas ideias aqui. Foi uma honra! Obrigado Eder e a todos que acreditam que o underground trata da construção de um lugar de diálogo, pensamento crítico e luta contra o ódio em todas as suas formas!



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