"Apesar de aparentemente sutil, acho que há um senso de comunidade na cena Hardcore/Punk (na qual estou inserido!). Acho que as mensagens das bandas encontram eco por representarem também os desejos de um mundo mais justo e democrático. "
Salve! É com muita alegria que anuncio aqui o nome de mais um apoiador ativo desse projeto, que nasceu para ser coletivo mesmo. O meu amigo Eder Rafael aceitou investir um pouco de seu tempo nesse humilde projeto, ajudando a manter esse Blog atualizado e sempre com conteúdo de primeira. Valeu mano!
Ele conversou com o Marcelo Fernandes, vocalista da lendária banda carioca Solstício, e ele falou um pouco sobre seus outros projetos. Links logo abaixo , só coisa finíssima!
Solstício Bulldog Club Las Calles
Salve,
Marcelo! Seja bem-vindo ao Calm Like a Bomb!
É um prazer ter a
oportunidade de trocar uma ideia contigo e saber um pouco mais sobre você, seus
projetos e a cena Punk/Hardcore no estado do Rio de Janeiro.
Peço
que se apresente para nós.
O prazer é todo meu!
Me chamo Marcelo Fernandes. Sou
vocalista nas bandas Solstício, Las Calles e Bulldog Club. Estou envolvido com
a cena Punk/Hardcore há mais ou menos 30 anos. Sou professor de Geografia na
rede pública estadual do Rio de Janeiro.
Bacana!
Cara, conheço seu trabalho na cena desde meados dos anos 2000 através do
Solstício, pra ser mais preciso pelo split com o Larusso que foi lançado pela
Caustic. O Solstício é do fim dos anos 90. Você teve algum outro projeto
anterior?
Sim. O Solstício foi formado em 1999.
Antes dessa banda tive algumas outras com vidas mais curtas como Change
(Hardcore) que durou algo entre 1998-99, e Gritos da Fome (Punk) 1997-98.
Fera!
Essas duas eu não conhecia. Tem registros dessas bandas? Solstício sempre foi
uma banda que me chamou a atenção e eu tento acompanhar, tanto que fiquei muito
feliz pelo retorno. É difícil desconsiderar a situação atual por conta da
pandemia, mas estavam preparando algum material novo pro Solstício? O último EP
é o Tempestade, de 2009, o qual é ótimo por sinal!
A minha primeira banda gravou uma demo
beeem caseira. Mas acho que se perdeu com o tempo! Já a Change gravou um k7 com
melhor qualidade, mas nunca mais a vi!
Já o Solstício está para lançar um
clip da música Neocons, foi um retorno ao rapcore dos anos 90. E estamos
esperando o fim da pandemia para fazer mais músicas na linha do Tempestade
Fera
demais! Além do Solstício, você citou o Las Calles e o Bulldog Club. A primeira
eu conheço e acompanhei o lançamento do EP “Batalha após batalha” e dos singles
“Tudo ou nada” e “Linguagem do fogo”, já a segunda eu não conheço ainda. Como é
conciliar esses projetos com as obrigações pessoais? Comente um pouco sobre
essas bandas.
O problema maior pra conciliar tudo é,
especialmente pra mim, a dificuldade em manter as cordas vocais em bom estado,
já que preciso delas para dar aulas. Quanto a tempo, as bandas acabam sendo uma
válvula de escape é uma forma de falar sobre temas que acho relevantes. É uma
das partes prazerosas da vida!
Concordo
plenamente! Você é da Região dos Lagos.
Como funciona a cena Punk/Hardcore aí? Ela acaba sendo uma cena
totalmente independente da capital ou rola certa dependência ou intercâmbio?
A cena é bem pequena, mas justamente
isso faz com que todo mundo que curte diferentes sons (Metal, Punk, Hardcore e
etc.) acabe se reunindo nos poucos shows que acontecem. Essa diversidade é boa
para criar um ambiente mais tolerante e menos sectário. O intercâmbio com
bandas e pessoas de outros lugares acontece, ainda que de forma limitada.
Pode
crê! Particularmente eu conheço poucas bandas do estado do Rio de Janeiro. Você
consegue mensurar o alcance das bandas que participa? O Solstício pela grande
trajetória já se apresentou em outros estados. Qual a sensação de sair do seu
espaço de vivência e levar a sua mensagem pessoalmente para outros lugares?
Ver, ouvir e sentir que pessoas que você não convive se reconhecem na sua
música?
Apesar
de aparentemente sutil, acho que há um senso de comunidade na cena Hardcore/Punk
(na qual estou inserido!). Acho que as mensagens das bandas encontram eco por
representarem também os desejos de um mundo mais justo e democrático. Penso que
são estes desejos, muito mais que as bandas e suas mensagens, que mantém
essa comunidade unida. Ainda mais num
momento de Protofascismo institucionalizado como o atual!
O
contexto político, assim como o econômico e o social a nível nacional e
estadual são desesperadores e sabendo que a temática do Punk/Hardcore sempre
foi questionar/confrontar/denunciar as decisões que são tomadas e o reflexo
delas. Você acredita em um fortalecimento da cena?
Acredito num fortalecimento no sentido
de que as pessoas envolvidas estão sendo levadas pelas circunstâncias a se
posicionarem diante do fascismo. Mas já um fortalecimento em relação ao aumento
da quantidade de pessoas envolvidas, acho que não. Pelo contrário, parece haver
menos pessoas a cada show que acontece. Mas no fim das contas, qualidade é
melhor que quantidade.
Interessante!
A nossa maneira de consumir música mudou radicalmente, principalmente na última
década. Qual sua opinião sobre a cena punk/hardcore no universo do streaming?
Cara, taí uma coisa que ainda não
consegui compreender totalmente! O impacto é enorme e acho que ainda estamos no
início da mudança cultural que essa tecnologia exige! Aparentemente, o “Faça
você mesmo!” tem seu potencial ampliado. Por outro lado, parece que essas
tecnologias afastaram as pessoas umas das outras, o que é péssimo para o
circuito de shows underground.
Marcelo,
finalizo aqui agradecendo pela disponibilidade de tempo pra trocar uma ideia e
abro esse espaço para suas considerações finais.
Grande
abraço.
Agradeço a oportunidade de expor um
pouco das minhas ideias aqui. Foi uma honra! Obrigado Eder e a todos que
acreditam que o underground trata da construção de um lugar de diálogo,
pensamento crítico e luta contra o ódio em todas as suas formas!
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