Translate

domingo, 12 de julho de 2020

ENTREVISTA: Izabela (Raw Speech)

"...a perda pedagógica que o ensino passou a presenciar através da implementação do modelo EaD: ele deixa de lado o caráter coletivo de sua construção para se resumir a uma simples transmissão de dados entre professor e aluno."

 

Salve geral, essa semana o Eder bateu um papo com a Izabela, uma "nova" artista que vem dando o que falar com suas excelentes colagens carregadas de críticas ácidas. Os links para conhecer o trampo da Izabela deixo logo aqui abaixo.

 LINKS:



Salve, Izah!
É um prazer trocar ideia contigo e antes de discutir qualquer assunto, peço que se apresente!
E aí, Eder!
O prazer é todo meu! Eu sou Izabela Caroline Schaus, sou estudante de arquitetura e urbanismo da UFRJ, nascida em Nova Friburgo, no interior do estado do RJ e uma artista em processo de construção.

Fera!
Antes de falar da sua relevante contribuição artística nesse momento turbulento, gostaria de saber sobre a sua escolha acadêmica. Qual foi a motivação e expectativa em relação ao futuro na área?
Então, a escolha do curso foi um pouco um caminho no escuro. Havia uma inclinação porque eu gostava muito de desenhar, mas é uma área com a qual você não tem muito contato e não sabe muito bem os rumos até estar de fato na graduação. Eu confesso que agora, eu preferia ter cursado alguma licenciatura como a Geografia. O meu contato, através do grupo de pesquisa do qual eu faço parte, com o urbanismo e, principalmente, a geografia crítica, me fizeram abominar o que é o curso de arquitetura rs.

     
Bacana!
Fica nítido na sua arte o senso crítico e a familiaridade com a geografia, principalmente com nosso querido Milton Santos. Por favor, comente sobre o projeto de pesquisa interdisciplinar que você participa.
É sempre uma satisfação pra mim falar sobre o Perifau. Eu faço parte de um coletivo, que trabalha e traduz os conceitos inaugurados pelo Milton Santos e a sua relação com a cidade e a totalidade da sua complexidade. Esse trabalho de leitura e entendimento dos conceitos é sintetizado em um material audiovisual, produzido pela pesquisa, que é divulgado no YouTube.

Aproveitando que estamos falando sobre graduação...
Sabemos que a UFRJ e o ensino público de maneira geral passam por um desmonte e tudo isso ficou ainda mais explícito com a pandemia e com a imposição do ensino à distância mesmo que as condições para isso não fossem ofertadas.
Peço que comente sobre a arte que você produziu sobre essa experiência.
Todo cenário faz parte de um retrocesso que não começou agora, mas que vem se intensificando através dos desmontes assinalados pelo governo Bolsonaro. A arte procura demonstra a perda pedagógica que o ensino passou a presenciar através da implementação do modelo EaD: ele deixa de lado o caráter coletivo de sua construção para se resumir a uma simples transmissão de dados entre professor e aluno. Importantíssimo lembrar o quão gravíssimo é esse cenário para o exercício do docente, cada mais precarizado em sua profissão (representado na arte pelo seu corpo máquina)

Pode crê! Essa é uma das minhas preferidas.
Vou deixar a questão acadêmica de lado agora e quero saber sobre a arte. Quando você percebeu que o que fazia era arte e quais foram as influências artísticas?
Comente sobre o estilo de arte que você desenvolve.
Então, essa percepção só aconteceu muito recentemente, já nesse contexto de pandemia. Eu me limitava a reproduzir coisas do cotidiano que existiam (mesa, cadeira, copo...) até por nunca gostar muito de desenhar (eu sou muito impaciente). Quando eu descobri a colagem através dos zines foi todo um mundo se abrindo. É como pegar a realidade e manipular isso pra que ela saía do mundo das aparências e revele a sua essência (em grande maioria, avassaladora). O artista que serviu como referência à primeira colagem que eu fiz que eu considero ter sido feita consciente de que era uma produção artística minha foi o Flávio Grão (fez a capa do Ponto Cego, do Dead Fish). Eu gosto muito dos trabalhos do Alexandre Cruz Sesper também e da Revista Prego. Tem muito trabalho bacana por aí que vale a pena e deveria ser visto.

Interessante!
Você contribuiu com uma arte no Velho Rabugento Zine e com as capas do single "Mitomaniac" do Speaker Destroyer Machine e agora do EP do Daileon Kick.
Qual é a sensação de ter seu trabalho compartilhado por pessoas de diferentes regiões do Brasil e você consegue mensurar isso?
Eu não consegui ter uma dimensão disso ainda, mas a cada convite feito por alguém pra compartilhar as minhas artes, divulgar em algum evento que tenha ideias parecidos com os meus, é uma satisfação imensa. Isso é muito bacana, e eu fico muito feliz por estar conhecendo tantas pessoas que fazem um trabalho bacana também. Eu sinto estar fazendo parte de um coletivo, e isso é demais!
 
É interessante essa visão de fazer parte do coletivo.
Você citou acima as referências para o desenvolvimento artístico. Gostaria de saber como você entrou no underground e quais são suas bandas preferidas? Pode citar tanto as bandas que te influenciaram inicialmente quanto as que você tem ouvido recentemente.
Tudo isso vem muito do meu companheiro. Eu imagino que muitas pessoas tenham ouvido isso sobre muitas outras pessoas, mas ele é uma enciclopédia. Ter descoberto, através dele, um som muito rápido e com questões que eram também as minhas questões, me fez sentir uma vontade de fazer algo (e eu acho que é sobre isso), não individualmente, mas, de novo, pensando em um coletivo. Eu gosto e ouço muito o Minor Threat, Black Flag, Garage Fuzz, Circle Jerks, Suicidal Tendencies e também, saindo um pouco diferente, do Fugazi. Me sinto iniciante nisso tudo, mas muito pertencente também.

Izah, gostaria de dizer que foi um prazer imenso trocar ideia contigo e finalizo abrindo espaço para as suas considerações finais.
Grande abraço!
É uma grande satisfação todo o apoio que recebo de vocês! Eu que agradeço o espaço e desejo muita arte de protesto pra todos nós!
A gente se vê por aí!



Nenhum comentário:

Postar um comentário