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quarta-feira, 5 de agosto de 2020

ENTREVISTA : Tim ( Nap Nap Records, Unbelievable Things, Vida e Nada)





Salve, galera, por esses dias tive um bate papo com meu amigo Tim, das bandas Unbelievable Things, Vida e Nada, além de tocar um selo independente chamado Nap Nap Records. Ele passou um pouco de sua vivencia no faça você mesmo, e particularmente, curti demais esse bate papo. Deixo logo abaixo os Links para que conheçam o Nap Nap Records além de suas bandas. 


Você se lembra como foi o seu primeiro contato com a cena independente?

Cara, eu nasci em Mandaguari ai no norte do PR, então eu não conhecia quase ninguém que se interessava ou até sabia o que era underground,  provavelmente meu primeiro contato com a palavra underground foi ali por 2005/2006 através de alguns amigos que gostavam de tocar violão, depois fui meio que descobrindo sozinho o que era isso quando comecei a ter internet discada em casa. Nessa época eu comecei a ouvir as bandas emo tipo Fresno e Hateen que falavam da existência de uma cena underground, ali que eu comecei a ler sobre e descobrir o que era isso de verdade. Eu só comecei a frequentar shows e conhecer pessoas mais envolvidas com isso mesmo quando fui pra faculdade e comecei a ir nos rolês que a produtora Sonic Flower Club organizava em Maringá ali por 2008

Legal cara. E desse primeiro contato com a cena de Maringá para a primeira banda ? Como se deu isso aí ?

 Um pouco antes de sair da escola, eu ganhei uma guitarra dos meus pais, fui pra Maringá comprar de ônibus hahaha, ai montei uma banda com uns amigos de infância/escola que se chamava Laundromaths. Fazíamos uns covers no começo, mas fomos percebendo que éramos muito ruins e resolvemos fazer as nossas próprias músicas porque seria mais fácil e mais daora. Nessa época eu descobri todo um mundo de bandas que são minhas favoritas até hoje, mas as primeiras influências foram o lê almeida e Superguidis. O lê almeida é o dono do selo Transfusão Noise Records do RJ, que rola até hoje, e lembro que vi um vídeo de uma matéria do SBT com ele falando que fazia shows e gravava as músicas em casa mesmo e nas imagens da matéria são eles tocando tipo na área de casa assim, meio foda-se, dai eu vi que era onde eu podia me encaixar hahaha. Começamos a fazer rolês na edícula da minha casa e depois gravamos um EP também todo feito em casa sem saber direito como gravar como o resultado dele mostra atualmente. E o EP da minha primeira banda ta ai : https://soundcloud.com/laundromaths , ela já acabou.
Laundromaths na edicula da casa do Tim


Melhor maneira "do It yourself" . Você continua nessa mesma pegada ? Não sei se posso chamar de " lo-fi ". Esse termo se encaixa ?

Eu acredito que lo-fi se encaixa sim, apesar que atualmente esse termo é mais vinculado ao hip hop e às vezes até para algumas bandas que gravam em estúdio com um som definitivamente hi-fi hahaha. Mas a nossa ideia sempre foi a de gastar o menor dinheiro possível e usar os recursos que temos a mão no momento. Até hoje continuo gravando a maioria das minhas coisas em casa mesmo, do jeito que dá. Tudo que gravei depois desse primeiro EP do Laundromaths foi desse jeito com ajuda de amigos. Dois EPs do Unbelievable Things, 2 Eps e 1 álbum do Vida e Nada e um outro Ep de um projeto que acabou que se chamava Beat Happier. UT e vida e nada continuam na ativa. Aqui em Curitiba fiz amizade com o Michael, também conhecido como Steve Albini das araucárias, que agora toca no Unbelievable Things também. Ele tem um estúdio na casa dele, chamado Sabine, os próximos lançamentos devemos fazer no estúdio dele.
Unbelievable Things


Muito legal isso.  Além da banda você tem um selo, fale um pouco sobre como funciona esse selo ?

Então, a Nap Nap Records surgiu em 2016, no começo a ideia era ter um lugar pra juntar as bandas do interior do PR que faziam um som mais indie guitar assim, que não era nem metal, nem hardcore/punk e nem rockão clássico hahah. Só que logo fomos abrindo para pessoas de outros lugares e outros tipos de som. Sempre foi uma coisa bem simples mesmo, organizar alguns shows, ajudar na divulgação das músicas, trocar ideias sobre gravação caseira e quando possível fazer algumas fitas cassetes. Atualmente virou muito mais uma coisa pra eu colocar meus projetos e ter um lugar pra divulgar que não seja minha própria rede social e ajudar amigos que estão nesse mesma posição de querer fazer som e não ter muito pra quem divulgar. Nós priorizamos gravações caseiras, mas também já lançamos todo tipo de projeto. Vou citar algumas bandas do Paraná que já lançaram algo conosco, mas no bandcamp temos vários outros lançamentos de outros lugares do Brasil e também uma coletânea de natal. 

Lançamentos Nap Nap Records

Demais, legal você falar das bandas do interior . Aqui em Rolândia sempre rolou a cena junto das cidades próximas , Arapongas, Londrina etc. Eu sei que a cena em Maringá é agitada , muitas bandas , mas quando você se mudou pra Curitiba e começou a vivenciar o underground na capital, você sentiu diferença em algum aspecto ?

Cara, eu acho que aqui, apesar de não ser nada gigante e nem sempre com regularidade, tem muito mais coisas acontecendo do que Maringá. Tem mais rolês diferentes pra ir se você tiver afim de ver um show sem ligar pra gênero, mais lugares que rolam shows de bandas pequenas, de vez em quando colam bandas de fora que é sempre uma experiência legal. Maringá quando eu morei lá era difícil achar um lugar pequeno pra fazer rolê, sempre foi difícil pras bandas dai e pra bandas de fora colarem, acho que só tinha o tribos praticamente. O resto era rolê na casa das pessoas, tipo festa em república.
De resto é meio igual, mais gente que tem banda do que público mesmo na maioria dos shows hahahah e pouca gente interessada em colar num rolê só pra ver qual é, sem conhecer nada do que vai rolar.

Cara e você tinha algum plano de lançamento , shows , alguma coisa que teve que ser brecada pela pandemia ?

Nós demos sorte que praticamente no último fim de semana com as coisas abertas aqui, rolou um show do UT, dia 13/03. Já tava todo mundo meio cabreiro com o vírus, mas ainda assim colou uma galerinha. Comprei até um álcool em gel pra botar na portaria hahaha, foi meio que a despedida de sair de casa. A pandemia deu uma travada na gravação das nossas músicas novas, no começo da pandemia já tínhamos algumas meio prontas pra gravar e nesse tempo eu aproveitei pra fazer várias demos que já to até frustrado de não poder juntar todo mundo pra gravar. O que me deixa mais triste é o quanto tá sendo difícil pra manter os picos de shows nessa época, provavelmente se um dia isso acabar, o que já era pouco, vai ser menos ainda no Brasil inteiro. E não vejo as pessoas passando a valorizar mais esses lugares depois que isso acabar.

Infelizmente são poucos os picos aqui na região que abrem pra bandas autorais, e muitas vezes é nadar contra a maré , uma vez que temos uma cultura de supervalorização de bandas cover, e pouco público que prestigia bandas autorais de sua cidade . Em Curitiba acontece dessa mesma forma ?

Eu acredito que no geral acontece da mesma forma, a grande maioria das pessoas só querem ouvir as mesmas coisas e ir nos mesmos lugares que obviamente não vão “incomodar” seu público trazendo algo novo pra tocar. Mas na contramão temos alguns bares aqui que abrem para bandas autorais e que funcionam, tipo o 92 e a casinha. 92 é um pico clássico daqui e a casinha é mais nova, mas a grande maioria das bandas novas dos últimos anos tocou lá. Além desses, temos mais alguns lugares que sempre rolam shows também, então aqui eu acho que até antes da pandemia existia até que um número bom de lugares pra tocar. Quanto ao público é bem variado e depende da banda, muitas vezes do hype dela rs, pra irem nos shows. Mas ainda tem uma galera que tá sempre nos rolês aqui .Pra cagar uma regrinha, me colocando também nos dois bolos, eu acho que faltam coisas nos dos dois lados, uma curiosidade e um foda-se maior das pessoas em não ligar de ver algumas bandas que ela pode não gostar pra descobrir uma que ela ama e também uma melhora das bandas, bares e produtores em se dedicarem mais pra fazer um evento legal pra chamar as pessoas.
Vida e Nada


 Cara se tornou rotina aqui pedir uma dica para matar o tempo durante essa pandemia. Eu queria te pedir dicas de 3 bandas/artistas nacionais, 3 internacionais, 1 livro e 1 álbum , o seu álbum favorito . Descasca esse abacaxi .hehe.

hahahahha, massa. Das brasileiras, vou indicar 2 bandas novas de Curitiba e uma banda que já acabou de SP que infelizmente eu só ouvi direito esse ano.

Wi-Fi Kills - Na minha opnião a melhor banda de curitiba atualmente, timbres de guitarra fudidos, show animal. Misturera de DEVO, post punk e uma pira tecnológica pós apocalíptica. Lançaram o primeiro álbum ano passado.

Cigarras - banda só de minas que não sei descrever melhor o som do que ROCK. o bom e velho e novo roque. Lançaram um álbum esse ano pela Zoom discos, gravadora muito boa daqui. Tem rock bêbado, tem baladinha pop, letras afiadas, vale muito conhecer, quero ir num show ainda pós virus. 

Fellini - A última é a banda véia que só ouvi direito esse ano. Um pouco antes da pandemia fui visitar um amigo em SP e fomos no show especial que o Fellini fez pra marcar o lançamento de uma caixa histórica deles. Eu conhecia já a fama, mas nunca tinha parado pra ouvir de verdade. Pirei muito nas guitarras no show, as levadinhas de samba torto com aquele jeito do gang of four tocar, sem muito solos, lindo demais. Quem não conhece, recomendo ouvir qualquer um dos discos deles, meu favorito é o amor louco.
     
Agora as internacionais, vou pelas que andei mais ouvindo ultimamente.

Duster - Outra banda que já tem um tempo por ai, mas só parei pra ouvir recentemente. Lançaram um álbum novo ano passado, mas o que ando mais ouvindo é o primeiro que é bem lo-fi. É um som mais lento e tristão mas com uma pegada mais viajada e espacial.

Guided By Voices - Uma das minhas bandas favoritas, absolutamente clássica. Tem dezenas de discos, do ultra lo-fi aos bem produzidos, hits e músicas que vc nem entende porque eles gravaram, fazem shows de 3 horas com um monte de música de 1 ou 2 minutos. Pra quem nunca ouviu, recomendo o álbum best of deles, “human amusements at hourly rates.

R.E.M - outra muito clássica, mas que eu não vejo as pessoas atualmente darem a real moral pra eles. Ando ouvindo bastante o disco ao vivo deles, o da capinha vermelha no Spotify. Só letra doida e músicas belíssimas, misturando umas mais desconhecidas e os hits.

Agora Livro.

Vou recomendar dois pra dar um contraste, foram os últimos que eu li na quarentena. O primeiro se chama “do que é feito uma garota’ da autora Caitlin Moran. O nome parece que um livro bobo pré  adolescente, mas não tem nada a ver. Conta a história de uma menina moradora de uma cidade suburbana da Inglaterra que com 18 anos começa escrever resenhas de discos pra uma revista de música nos anos 90 e as descobertas na arte e na vida dela dessa época. A descrição do primeiro show que ela foi me fez ficar doido de vontade de ir num show de novo agora que estamos presos. É uma leitura bem fácil e engraçada, tem ai nas locadoras de ebook da internet pra quem não quiser comprar.

O segundo foi o que eu acabei de ler esses dias, medo e delírio do Hunter Thompson, literatura de maluco, Lindas descrições de paranoia de droga e outros absurdos. Aquela doideira que voce nunca sabe se ele tá narrando algo que aconteceu ou se é um monte de invenção de gente doida. Tambem tem disponível nas locadoras de ebook pirata.

E pra terminar, meu disco favorito, essa é a mais difícil. Não sei direito qual é meu disco favorito, mas aqui vou escolher o amarga sinfonia de um superstar do Superguidis, uma banda gaúcha que infelizmente já acabou. Acho que esse nem é o melhor deles, mas tenho muito carinho por ele, ouvia até gastar andando de bicicleta em Mandaguari num antigo trampo que eu tive lá. Amo as letras de jovem trabalhador de cidade pequena e também porque despertou muito meu gosto por guitarras distorcidas.

Achei que iria dificultar sua vida , mas vc se saiu muito bem . Rs. Cara vou encerrando por aqui , agradeço demais pelo tempo investido aqui nesse blog, gostei demais do bate papo. Deixo aqui um espaço só seu, para se manifestar livremente , um abraço .

Opa, eu que agradeço a oportunidade e o espaço e agradeço a quem leu até o final. É nóis.


Transfusão Noise Records no SBT

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